CETEP de Alagoinhas

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terça-feira, 26 de junho de 2012

Decreto 5.154




http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5154.htm

O Decreto 5.154, de 23 de julho de 2004, é importante documento que normatiza a Educação Profissional em nosso país. Trata-se de material de conhecimento obrigatório por todos aqueles que estão envolvidos com a Educação Profissional.

Acessem o link e boa leitura.

Continuação do Histórico sobre a Educação Profissional



(Segunda parte)

Ainda na fase inicial da industrialização brasileira (1932-1936) era possível treinar os operários rapidamente nas próprias fábricas. Porém, passada esta fase inicial, a transmissão – assistemática e informal – desses conhecimentos no próprio local de trabalho tornou-se inviável pois

É evidente que, se a educação informal é incompleta, em condições semelhantes o ensino profissional também o é, além de se mostrar um processo lento e oneroso, calcado no ensaio e erro, método primitivo que não atende à expectativa da evolução tecnológica atual. Por essa razão, nos países considerados desenvolvidos, o exercício profissional só é admitido após formação escolar.” (MORENO, 1980, p.242)

Torna-se claro e óbvio afirmar que a formação profissional surgiu com o nascimento da indústria e das fábricas, que foram os expoentes máximos da fase inicial de industrialização. Porém devemos situar a formação profissional dentro de um contexto mais amplo que é o da educação profissional. Desta, caracterizada inicialmente como o ensino e a aprendizagem de uma determinada profissão, vamos encontrar referências em épocas distantes. Já na Europa da Idade Média, para não irmos mais além, encontramos as corporações de ofício, as quais sintonizadas com o contexto daquela sociedade, proporcionavam o ensino de determinados ofícios.

Os aprendizes eram jovens que viviam e trabalhavam com o artesão principal, e aprendiam o ofício. A extensão do aprendizado variava de acordo com o ramo. Podia durar um ano, ou prolongar-se por 12 anos. O período habitual de aprendizado variava entre dois e sete anos. Tornar-se aprendiz era um passo sério. Representava um acordo entre a criança e seus pais e o mestre artesão, segundo o qual em troca de um pequeno pagamento (em alimento ou dinheiro) e a promessa de ser trabalhador e obediente, o aprendiz era iniciado nos segredos da arte, morando com o mestre durante o aprendizado.” (HUBERMAN, 1983, p.63)

REFERÊNCIAS


HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.


MORENO, Mair Martin. Formação Profissional (aprendizagem). In: BOOG, Gustavo Gruneberg (Coord). Manual de Treinamento e Desenvolvimento. São Paulo: McGraw Hill, 1980, p.241-257.


(Texto produzido por Sydney Lima Silva)
(Fim da segunda parte. Continua nos próximos episódios)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Em capítulos, apresentaremos, para discussão, trabalho de nossa autoria sobre o Histórico da Educação Profissional

(Primeira parte)

FORMAÇÃO PROFISSIONAL
BREVE HISTÓRICO
A Formação Profissional no mundo e no Brasil está intimamente ligada ao nascimento e avanço do processo de industrialização nas sociedades e corresponde às necessidades geradas por esse mesmo processo. 
 O Congresso Internacional de Treinamento e Desenvolvimento realizado em Bath, na Inglaterra, em 1973, apresenta um modelo em que divide a industrialização em cinco fases distintas1 a saber:
1ª FASE: Subdesenvolvimento
2ª FASE: Em desenvolvimento
3ª FASE: Após o início da industrialização
4ª FASE: Industrialização avançada
5ª FASE: Pós-industrialização
Sem entrar em detalhes sobre as características atribuídas a cada fase deste modelo, já que não faz parte do objetivo deste trabalho, vimos que é na fase de DESENVOLVIMENTO DA INDUSTRIALIZAÇÃO que surgem as Instituições de Formação Profissional. É quando a quantidade e complexidade dos conhecimentos necessários para operar a indústria passa a requerer uma preparação metódica e sistemática da mão-de-obra.
Outro modelo deste processo nos é dado por HUBERMAN, 1983, p.125, que caracteriza a organização industrial em quatro fases sucessivas, que são:
  1. Sistema familiar: os membros de uma família produzem artigos para seu consumo, e não para a venda.
  2. Sistema de Corporações: produção realizada por mestres artesãos independentes, com dois ou três empregados, para o mercado, pequeno e estável.
  3. Sistema doméstico: produção realizada em casa para um mercado em crescimento, pelo mestre artesão com ajudantes, tal como no sistema de corporações.
  4. Sistema fabril: produção para um mercado cada vez maior e oscilante, realizada fora de casa, nos edifícios do empregador e sob rigorosa supervisão.
 Considerando o esquema de Huberman, vamos encontrar a formação profissional ainda no sistema de corporações e a formação industrial a partir do sistema fabril, conforme detalharemos nos parágrafos seguintes. Comparando os modelos de Huberman e o citado por PONTUAL, no que se refere ao grau de avanço da industrialização, podemos estabelecer uma correspondência entre o sistema fabril e a fase de desenvolvimento da industrialização.
No Brasil, a industrialização, datada da década de 20 pode ser constatada no “(...) impulso sofrido pelo parque manufatureiro que apesar de débil passa a ter papel indispensável no conjunto da economia brasileira.” (RIBEIRO, 1982, p.91). Este processo provocou alterações substanciais na sociedade brasileira. A produção dos bens materiais, atrelada agora ao desenvolvimento tecnológico e à dinâmica das fábricas, implicou no surgimento de novas dinâmicas e necessidades sociais. Uma delas, a qual me interessa neste trabalho, refere-se a necessidade de formação e reposição de mão-de-obra.
Ora, a industrialização com o seu consequente avanço tecnológico criou a necessidade de conhecimentos maiores e mais complexos para operar e manter seu maquinário produtivo. Foi a “(...) complexificação do trabalho fabril que passou a exigir trabalhadores mais qualificados.” (WARDE, 1983, p.56). Para DECCA, 1987, p.68, “(...) o sistema de fábrica (...) abriu2 caminho para que se produzisse uma esfera de conhecimentos tecnológicos onde se opera a radical apropriação do saber”. Esses conhecimentos tecnológicos, apropriados pelo sistema, deveriam ser transmitidos para aqueles que iriam manipular os equipamentos da indústria no sentido de implementar sua produção.

1 Citado por PONTUAL, 1980, p.5-6.
2 O verbo abrir foi deliberadamente alterado para a forma do pretérito perfeito para promover a concordância necessária à coerência do texto.


REFERÊNCIAS


DECCA, Edgard de. O Nascimento das Fábricas. São Paulo: Brasiliense, 1987.

HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
  
PONTUAL, Marcos. Evolução do Treinamento Empresarial. In: BOOG, Gustavo Gruneberg (Coord). Manual de Treinamento e Desenvolvimento. São Paulo: McGraw Hill, 1980, p.1-12.

RIBEIRO, Maria Luísa Santos. História da Educação Brasileira: a organização escolar. São Paulo: Moraes, 1982.
 
WARDE, Mirian Jorge. Educação e Estrutura Social: a profissionalização em questão. São Paulo: Moraes, 1983.

(Texto produzido por Sydney Lima Silva)
(Fim da primeira parte. Continua nos próximos episódios)

Sugestão de Regulamento para os Laboratórios de Informática


REGULAMENTO DE LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA



NORMAS DE FUNCIONAMENTO (regras de convivência / regimento interno)
1. Introdução:
O Laboratório de Informática constitui uma importante infra-estrutura pedagógica e funciona como instrumento de apoio para as atividades escolares a serem desenvolvidas tanto pelos docentes quanto pelos alunos.
O Laboratório de Informática oferece espaço e equipamentos de informática e multimídia para as atividades escolares, que visem especificamente:
  • Estimular e promover o conhecimento das tecnologias informatizadas aplicadas à comunicação e ao aprendizado em geral aos alunos dos cursos regulares;
  • Desenvolver os projetos educativos individuais ou coletivos;
  • Promover a interação das atividades desenvolvidas na escola;
  • Dar suporte às disciplinas dos cursos oferecidos pela escola.
Estas normas foram criadas e têm por objetivos básicos melhorar o gerenciamento dos equipamentos e serviços do Laboratório de Informática, bem como impedir o mal-uso destes recursos, possibilitando uma melhor e mais organizada utilização, em benefício da aprendizagem dos alunos.

2. Agenda de funcionamento:
  • O laboratório de informática funcionará de segunda a sexta-feira, das 7:30 às 11:30, das 13:00 às 17:30 e das 19:00 às 22:30 horas, em consonância com o horário de funcionamento da Biblioteca;
  • Para funcionamento do laboratório de informática é necessário a presença em tempo integral do Coordenador de Laboratório e/ou do monitor selecionado pela coordenação central do programa;
  • Os alunos podem utilizar o laboratório, desde que o mesmo não estejam sendo usado para aulas regulares, devendo consultar o horário das mesmas, que se encontram afixado na porta da entrada;
  • Em momentos de aulas, o docente tem o direito de não permitir a presença de alunos estranhos à aula, visando o bom andamento dos trabalhos ou se a sala estiver completamente ocupada por alunos pertencentes à turma;
  • No laboratório, cada máquina terá uma identificação (1, 2, 3,....., 31). Quando o usuário entrar, o monitor indicará qual computador ele usará;
  • Na saída do usuário, o monitor deverá fazer o encerramento da sessão desse usuário;
  • Em caso de mal-funcionamento e se houver disponibilidade, o usuário poderá usar outra máquina;

3. Responsáveis pelo laboratório:
O Laboratório conta com os seguintes responsáveis, nesta ordem:
  • O Coordenador de laboratório;
  • O(s) Monitor(es);
  • O(s) Professor(es) ou qualquer outro profissional que dele estiver fazendo uso.

4. Das competências:
4.1. Compete ao Coordenador:
  • acompanhar, e zelar pelo bom funcionamento do laboratório;
  • zelar pela aparência e organização do laboratório;
  • orientar os docentes quanto à utilização do laboratório e dos seus recursos para viabilizar os projetos das suas disciplinas;
  • administrar o laboratório.

4.2. Compete ao Monitor:
  • realizar o cadastro dos usuários;
  • sanar dúvidas, assessorar e orientar os usuários sobre o uso adequado dos recusas disponíveis no laboratório;
  • zelar pela conservação, mantendo os equipamentos em condições adequadas de uso e funcionamento;
  • providenciar a manutenção dos equipamentos danificados;
  • verificar o encerramento da sessão de cada usuário;
  • verificar e proceder o desligamento de todas as máquinas, iluminação e aparelhos do laboratório ao final do turno de trabalho;
  • instalar, configurar, atualizar programas, software necessários ao bom funcionamento do laboratório;
  • zelar pela aparência e organização do laboratório.
4.3. Do usuário:
  • são usuários do laboratório os alunos regularmente matriculados na escola, professores, Técnicos-Administrativos e comunidade externa, devidamente cadastrados e portadores de senha;
  • o cadastramento e/ou alteração da senha deverá ser feita com o Coordenador do laboratório;
  • o usuário deverá apresentar para cadastro de senha, a carteira da Biblioteca ou algum outro documento de identificação com foto que comprove seu vínculo com a Escola;
  • o acesso ao laboratório e á rede mundial de computadores (Internet) será gratuito;
  • o acesso ao laboratório é livre para os usuários, sendo que, para garantir vaga é recomendável o agendamento de data e horário;
  • as reservas para usuários, com exceção do uso por disciplinas, poderão ser feitas, no máximo, para um período de cinco dias consecutivos ou dez dias intercalados, e podem ser realizadas diretamente com os monitores do laboratório;
  • As reservas (blocagem) deverão ter um tempo máximo de uma hora, podendo ser estendido quando:
  • Houver disponibilidade de máquinas;
  • Não existam usuários aguardando pela liberação de máquinas ou com reserva de horário;
  • Será dado a todos os usuários tolerância de atraso de 20% do tempo reservado, com exceção do uso por disciplinas que será tolerância de atraso de 50% do tempo reservado.;
  • o uso dos equipamentos deverá ser exclusivamente para fins acadêmicos;
  • o direito à impressão de cópias dependerá de autorização da direção da escola.

4.3.1. Compete ao usuário:
  • conhecer e respeitar as políticas do laboratório.;
  • estar ciente dos horários de funcionamento do laboratório e respeitá-los;
  • manter sua senha totalmente sigilosa, trocando-a esporadicamente ou sempre que achar que tenha sido descoberta por alguém;
  • manter cópias de segurança de seus dados armazenados no diretório pessoal, pois o laboratório não se responsabiliza por eventuais perdas de informações e dados;
  • comunicar, de imediato, ao monitor, assim que detectá-lo, qualquer problema com os equipamentos (hardware e software);
  • manter a ordem e o silêncio dentro do laboratório, para não desconcentrar os demais usuários que estiverem presentes no recinto;
  • ter o cuidado de desligar as suas máquinas de trabalho no final de cada sessão;
  • zelar pela aparência e organização do laboratório;
  • respeitar a finalidade do laboratório de informática.

4.3.2. Não será permitido ao usuário:
  • mudar a configuração dos equipamentos ou instalar, copiar ou modificar softwares ou programas bem como alterar configurações nos computadores do laboratório. A instalação de qualquer software ou programa, nas máquinas do laboratório será realizada pelos monitores;
  • acessar sites da internet que não sejam exclusivamente para fins acadêmicos tais como: sites pornográficos, de pedofilia; salas de bate-papos, ou ainda qualquer material que possa causar algum tipo de discriminação - racial, religiosa, sexual, etc;
  • comer, beber ou entrar com alimentos nas dependências do laboratório;
  • fumar ou conduzir aceso cigarros ou similares;
  • remover qualquer equipamento ou mobiliário do local;
  • usar mais de um equipamento simultaneamente;
  • conectar e/ou desconectar periféricos;
  • instalar qualquer tipo de software, bem como instalar programas obtidos na rede sem uma análise criteriosa do Coordenador do laboratório;
  • violar a privacidade alheia, ou ainda praticar danos a ambientes operacionais ou a rede como um todo;
  • usar a identificação/senha de outro usuário (qualificado como falsidade ideológica), bem como tentar o acesso não autorizado a programas ou computadores de terceiros;
  • ignorar ou evitar o uso de medidas estabelecidas de proteção contra vírus, ou outros softwares maliciosos;
  • usar as instalações do laboratório com fins lucrativos;
  • abrir ou violar qualquer computador disponível nas dependências do laboratório, sem autorização do Coordenador do laboratório;
  • tumultuar o ambiente com conversas paralelas que prejudicam outros usuários.

5. Controle de entrada e saída e segurança do laboratório:
  • o controle de entrada e saída dos usuário deverá ser rigoroso, seguindo os padrões pré-estabelecidos (verificação de cadastro, assinatura em livro próprio, registro dos horários de acesso e finalização da sessão e do número da máquina utilizada);
  • o laboratório de informática deverá ser trancado fora do horário de expediente;
  • deverão ser adotados mecanismos específicos de segurança, conforme disponibilidade de recursos, aos equipamentos disponíveis no laboratório;

6. Cumprimento das normas:
  • o descumprimento ou inobservância de quaisquer das normas citadas acima, será considerada falta grave, podendo o usuário ter suspenso imediatamente o direito de acesso e uso dos serviços do laboratório.

7. Disposições gerais:
  • Os casos de omissão serão resolvidos pelo Coordenador do laboratório e, se necessário, pela direção da escola;
  • O presente Regulamento entrará em vigor na data de sua aprovação, revogadas as disposições em contrário.

Charles Chaplin - Tempos Modernos - Interessante crítica ao capitalismo e à atividade industrial da época (década de 20 do século passado), onde o operário "robotizava-se" através da realização de tarefas repetitivas.


sexta-feira, 22 de junho de 2012

Um pouco da História da Educação Profissional no Brasil


O FIO DA HISTÓRIA: A GÊNESE DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL

Garcia, Sandra Regina de Oliveira (UEL)

1 Os Primeiros Passos da Formação Profissional no Brasil

No Brasil a formação do trabalhador ficou marcada já no início com o estigma da servidão, por terem sido os índios e os escravos os primeiros aprendizes de ofício. Com isto, “... habituou-se o povo de nossa terra a ver aquela forma de ensino como destinada somente a elementos das mais baixas categorias sociais". (Fonseca, 1961, p. 68)

De acordo com Fonseca, outros fatores influenciaram para a cristalização dessa mentalidade: o primeiro fator foi a entrega do trabalho pesado e das profissões manuais aos escravos1; isto não só agravou o pensamento generalizado de que os ofícios eram destinados aos deserdados da sorte, como também impediu, pelas questões econômicas, os trabalhadores livres de exercerem certas profissões. Um outro fator foi que a educação eminentemente intelectual que os jesuítas ministravam aos filhos dos colonos afastava os “elementos socialmente mais altos” de qualquer trabalho físico ou profissão manual.

Fonseca salienta que isto era tão enraizado que para desempenhar funções públicas uma condição era de nunca o candidato ter trabalhado manualmente.

Com a descoberta do ouro em Minas Gerais apareceram as Casas de Fundição e de Moeda, e com elas a necessidade do ensino de ofícios para aprendizes trabalharem nestas Casas. A aprendizagem feita nas Casas da Moeda diferenciava-se da realizada nos engenhos, pois só era destinada aos homens brancos, filhos dos empregados da própria Casa. Outra diferença era que aqueles que aprendiam o ofício, nos engenhos, faziam-no de forma assistemática e não precisavam provar o seu conhecimento prático por meio de exames. Nas Casas de Moeda os aprendizes, no fim do período de cinco a seis anos, tinham que demonstrar as suas habilidades perante uma banca examinadora e, sendo aprovados recebiam uma certidão de aprovação.

No mesmo período também se iniciaram nos Arsenais da Marinha no Brasil centros de aprendizagem de ofícios; os operários especializados trazidos de Portugal e os aprendizes eram recrutados até durante a noite, quando uma patrulha do Arsenal saía e recolhia todo aquele que fosse encontrado vagando pelas ruas depois do toque de recolher.

Segundo Fonseca (1961), algumas vezes a necessidade era tanta que se recorria ao chefe de polícia, pedindo que enviasse dos seus presos aqueles que estivessem em condições de produzir algum trabalho profissional.

Em 1808, com a abertura dos portos ao Comércio estrangeiro e ao mesmo tempo, ao permitir a instalação de fábricas2 no Brasil, D. João VI criou o Colégio de Fábricas, que representou o primeiro estabelecimento que o poder público instalou em nosso país, com a finalidade de atender à educação dos artistas e aprendizes. Salientamos que estes aprendizes vinham de Portugal atraídos pela abertura dos portos e das indústrias.

Com a fundação do Império em 1822 e com a Assembleia Constituinte de 1823 não houve nenhum progresso em relação ao ensino de ofícios, isto é, continuava a mesma mentalidade de destinar este ramo de ensino aos humildes, pobres e desvalidos.

Só em 1827 a Câmara aprovou o projeto da Comissão de Instrução que organizava o ensino público pela primeira vez no Brasil. Neste projeto a instrução ficou dividida em quatro graus distintos3, com o ensino de ofícios incluído na 3a série das escolas primárias, e depois nos Liceus no estudo de desenho, necessário às artes e ofícios.

Sobre isto, Fonseca afirma
... a tentativa de organização do ensino revelava uma tendência à evolução do conceito dominante sobre o ensino profissional, pois mostrava que a consciência nacional começava a se preocupar com o problema e a influir no espírito dos homens públicos, ...” (1961, p. 128)

Posteriormente em 1834, mediante o ato adicional, ocorreu a descentralização do ensino, ficando sob a competência das Províncias o ensino primário e secundário, e do governo central o ensino superior. De acordo com Fonseca:

... só por um milagre essa falta de orientação única dos ensinos elementares e secundário não levou o Brasil à fragmentação, pois são eles os elementos mais fortes da formação da unidade espiritual de um povo, fatores que dão um denominador comum às tendências e aspirações das diversas regiões de um país”. (Fonseca, 1961, p. 130)

Por volta de 18524 foi exposta a ideia de fundar estabelecimentos de ensino de ofícios que não levassem em conta o estado social de seus alunos. Esta ideia representou uma reação formal à mentalidade dominante da época, mas não passou de um projeto.

O ensino necessário às indústrias iniciou-se destinado aos silvícolas, depois aos escravos, em seguida aos órfãos e aos mendigos, e mais tarde passou a atender os excluídos, como cegos e os surdos-mudos. Isto se deu com a criação, por D. Pedro II, do Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, que se destinava ao ensino de ofícios: os cegos aprendiam tipografia e encadernação e os surdos mudos, sapataria, encadernação, pontação e douração.

Uma outra medida neste mesmo período foi o Decreto no 1.331-A de 01 de fevereiro de 1854, que reformava a instrução primária e secundária do Município Neutro, e que continha medidas para os menores abandonados, criando para eles asilos, onde receberiam a instrução de 1o grau e posteriormente seriam enviados às oficinas públicas ou particulares para aprenderem um ofício.

Mais uma vez ficava explícito o papel dos ofícios para os menores abandonados.

Apenas vinte anos depois é que foram criadas dez escolas, sendo a uma delas estabelecido que deveria executar os artigos 62 e 63. Esta escola era a Casa do Asilo (1874), que um ano depois passou a se chamar Asilo dos Meninos Desvalidos do Rio de Janeiro5.

Segundo Fonseca, João Alfredo, ao fundar o Asilo, não tinha em mente apenas o problema assistencialista, pois a casa destinava-se não só a recolher como educar meninos de 6 a 12 anos de idade. Mas, sem dúvida o estabelecimento tinha mais caráter de asilo do que de uma escola profissional.

Com o fim da escravidão e a proclamação da República, nascia a perspectiva de alterar o panorama em relação ao ensino de ofícios.

Fonseca lembra que foi aprovado em 1906 um crédito do governo Federal para que os Estados criassem escolas técnicas profissionais.

Conforme Romanelli (1980), a Constituição da República de 1891, que instituiu o sistema federativo de governo, consagrou também a descentralização do ensino e a dualidade de sistemas, que delegou à União a criação e o controle do ensino superior e o ensino secundário; aos Estados coube criar e controlar o ensino primário e o ensino profissional.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CNI – Confederação Nacional da Indústria. Educação Básica e Formação Profissional. Rio de Janeiro, 1993. mimeo.
FERREIRA, Eva Waisros; TEIXEIRA, Zuleide A. A educação clássica redimensionada. In: BRZEZINSKI, Iric. LDB Interpretada: diversos olhares se entrecruzam. São Paulo: Cortez, 1997.
FONSECA, Celso Suckow. História do Ensino Industrial no Brasil. Rio de Janeiro: Escola Técnica, 1961. v.1.
GRAMSCI, Antonio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura . Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995.
KUENZER, Acácia Z. Ensino Médio e Profissional: as políticas do Estado Neoliberal. São Paulo: Cortez, 1997.
NEVES, Lúcia M. W. A Hora e a Vez da Escola Pública: um estudo sobre os determinantes da política educacional do Brasil de hoje. Rio de Janeiro: UFRJ, 1991. Tese de doutorado.
_____. Brasil Ano 2000 – Uma nova divisão de trabalho na educação. Rio de Janeiro: Papéis e Cópias, 1997.
_____. I Seminário sobre Reforma do Ensino Profissional. Mimeografado. Curitiba, 1997.
NOSELLA, Paolo. A Escola de Gramsci . Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
ROMANELLI, Otaíza de O. História da Educação no Brasil (1930/1973). Petrópolis: Vozes, 1980.
SAVIANI, Dermerval. A Nova Lei de Educação: trajetória, limites e perspectivas . Campinas: Autores Associados, 1997.
1 Até então os artigos que eram produzidos pelos trabalhadores das fazendas gozavam de certa consideração e estes transmitiam aos mais jovens o conhecimento que tinham sobre o manejo das ferramentas e sobre a tecnologia das profissões. Este prestígio acabou quando esta aprendizagem caseira de ofícios passou a ministrada aos escravos, passando os “homens brancos” a desprezarem o ensino de ofícios.
2 Até então era proibido pelo alvará de 5 de janeiro de 1785, que obrigou o fechamento de todas as fábricas, justificando da seguinte forma:
O Brasil é o país mais fértil do mundo em frutos e produção da terra. Os seus habitantes tem por meio da cultura, não só tudo quanto lhes é necessário para o sustento da vida, mais ainda muitos artigos importantíssimos, para fazerem, como fazem, um extenso comércio e navegação. Ora, se a estas incontestáveis vantagens reunirem as das indústrias e das artes para o vestuário, luxo e outras comodidades, ficarão os mesmos totalmente independentes da metrópole. É, por conseguinte, de absoluta necessidade acabar com todas as fábricas e manufaturas no Brasil”. (Alvará de 05.01.1785 in Fonseca, 1961).
3 Os graus são: 1) Pedagogias, que se destinava ao 1o grau; 2) Liceus, que seria o 2o grau; 3) Ginásios, destinados a transmitir conhecimento relativo ao terceiro grau; e 4) Academias destinadas ao ensino superior.
4 Projeto apresentado pelo vereador Manuel Araújo Porto Alegre do Município Neutro, em 1852 (Fonseca, 1961, p. 137, v.1).
5 Sobre o Asilo dos Meninos Desvalidos (1875) que posteriormente (1910) passou a se chamar: Escola Estadual João Alfredo ver tese de mestrado de MARQUES, Jucinato de S. Os Desvalidos: o caso do Instituto Profissional masculino (1894-1910): uma contribuição à História Social das instituições educacionais na cidade do Rio de Janeiro – UFRJ, 1996.

A Educação Profissional no CETEP de Alagoinhas